abril 12, 2011

Anunciem o fim por obséquio!


Num mundo onde todos dizem que cada vez há menos amor, menos afectos, de há alguns tempos para cá, há quem tente contrariar estes pensamentos mais pessimistas.

Como paredes e muros monocromáticos e dicromáticos, e portas de madeira sem riscos são um aborrecimento, alguns adolescentes e não só revolvem pintar ou marcar nos mais diversos locais públicos o seu “amor” por alguém.

Alguns exemplos:
“Jacinto ama Zoraima 20/11/01”
“Alzira ama Teodoro 11/02/00”
“Zé ama Jerónimo 30/11/05”
“Anacleta ama loucamente Belizandra 05/01/01”

Lá está, contraria os pensamentos pessimistas, e dá mais cor a esta ou aquela parede, contudo eu sou uma cidadã exigente e nestas marcas líricas faltam coisas.

1º - Onde já se viu escrever só o primeiro nome? Quantos milhões de Jacintos e Alziras existem por este mundo fora? É uma imprecisão grave! Nome e sobrenome obrigatórios.
2º - Para que todos saibam que tal declaração não foi realizada de ânimo leve, no fim deveria existir um espaço reservado ao número de bilhete de identidade, número de contribuinte e número do passaporte (nunca se sabe) de cada um dos intervenientes no acto em questão.
3º - Incluir na marca o número de telefone de um e de outro, caso seja cometido algum erro ortográfico serão imediatamente contactados para virem corrigir o pontapé dado na língua portuguesa, e pagar uma multa pelos danos causados! Claro e se do pontapé resulta uma nódoa negra, uma fractura exposta alguma coisa destas, alguém tem de pagar ou seja o agressor.
4º - Deveria existir uma ordem específica, inviolável, para a “colocação” da dita marca. Se vivemos num mundo que se quer reger pela ordem, é favor de dar o exemplo. Imaginem junto às ditas paredes um bonito guinche, com um/uma funcionário/a trombudo/a para o atendimento e esclarecimento de dúvidas, que acumulava ainda a função de fazer cumprir a ordem das senhas retiradas pelos interessados, fazendo assim respeitar a ordem e toda a lógica da burocracia. Como me parece tornar-se um trabalho complicado que envolve grande esforço físico mental, sugiro que o/a funcionário/a trombudo/a trabalhasse por turnos de 1 hora, não quero ninguém com esgotamentos nervosos, quem é amiga quem é? No caso das marcas deixadas nas portas, a videovigilancia bastaria.
5º - Implantar como obrigatório a explicitação da hora a que a dita marca foi deixada, tratando-se de uma marca histórica, todos os pormenores são de suma importância para daqui a uns 200 anos o Professor José Hermano Saraiva saber como deve enquadrar tais acontecimentos.
6º - Cada marca teria uma cor diferente. No caso das marcas nas portas a utilização de diferentes espessuras de chaves para as diversas marcas.
7º - A mais importante de todas as regras! Quando o relacionamento acabar é obrigatório voltar à parede ou à porta e anunciar a todo o mundo que o romance acabou. Mas, atenção, o comunicado tem de ser bem feito e incluiria os seguintes tópicos:- Porque motivo acabou;- Quem decidiu acabar;- Como foram partilhados os pertences e prendas, etc;- A que horas terminou;- Quem fez a mala;- Em que data ocorreu a ruptura;- E o mais importante quem ficou com o periquito que compraram juntos.
8º - Criar uma comissão que autentique a veracidade destas marcas, deixando em cada uma o seu carimbo e assinatura do inspector responsável, tudo isto que para que todo e qualquer cidadão saiba que estas declarações se encontram dentro das normas estipuladas pela União Europeia.
9º - A elaboração de um manual que contenha estas regras básicas e posteriormente, outras mais especificas que o sindicato criará. Existem sindicatos para tudo também se pode criar um para isto.

Eu gosto de estar informada, ora então se eu tenho conhecimento do início de uma relação tenho igualmente o direito de saber quando ocorreu o seu término e porquê!

abril 06, 2011

A insónia


Todos sabemos que há pessoas com insónias, certo? Porreiro, começamos bem.

Noites, as há, em que por muita boa vontade que a pessoa tenha não consegue dormir, ou então dorme apenas uma ou duas horas.

Eulália Costa, jovem na casa dos 37 anos, contraiu matrimónio com Anisio Costa, de 39, há dez anos. Fim-de-semana, e Eulália Costa teve uma insónia… em contrapartida, o seu esposo dormiu lindamente.

Anisio Costa – Bom dia, dormiu bem a minha querida, meu amor?
Eulália Costa – Tive uma insónia.
Anisio Costa – Perante o drama da trágica revelação – UMA INSÓNIA?
Eulália Costa – Pois foi só uma noite só tive uma insónia, querias que tivesse tido duas numa noite?
Anisio Costa – Mas você sente-se bem? Você mediu a tensão? Você viu o nível de açúcar no sangue?
Eulália Costa – Eu…
Anisio Costa – E os triglicéridos? Deve ser do castrol alto! É isso! O médico bem disse que você tinha de cortar nas gorduras, porque você está gorda que nem uma porca!
Eulália Costa – Mas…
Anisio Costa – Você cale-se, você deixe-me falar que é para o seu bem. Você não dormiu porque as suas enzimas anderem a noite toda a trabalhar pra raspar o castrol das suas veias. Depois as supra-ranhosas de você tiverem de produzir adrenalina, e você não dormiu. Você precisa de um transplante de rinzes!!
Eulália Costa – Trans…
Anisio Costa – Você não se preocupe que vou já telefonar à minha santa sogra, sua mãe, para ela ir já para o hospital preparar-se para doar o rim. Alguém tem de sacrificar. Eu não dou um rim meu, porque você sabe que eu tenho muitos gases e preciso de beber muita água, não podendo como tal ficar só com um rim. Ainda isto explodia e depois quem cuidava de você?
Eulália Costa – Mas os meus rins estão óptimos!

(Anisio Costa, juntando as extremidades dos braços – popularmente apelidadas de mãos – e em pose pensativa, reflecte um pouco)

Anisio Costa – Isso é asma!
Eulália Costa – Asma?
Anisio Costa – Sim, que você durante o dia é invadida por arcaros e depois à noite eles andem por você acima e por você abaixo, num reboliço, não deixam você dormir e você pensa que é uma insónia.
Eulália Costa – Hum?
Anisio Costa – Você está a precisar de uma bombada.
Eulália Costa – Bombada?
Anisio Costa – Agarrando a esposa pela mão – Venha, meu amor, minha querida. Vamos dar uma bombada. Vamos à bomba de gasolina, pode ser que hoje não haja muitos carros a calibrar a pressão dos pneus e você despacha-se depressa.
Eulália Costa – Oh Anisio, eu não tenho asma.
Anisio Costa – Não faz mal, é um serviço gratuito e você sempre respira novos ares. Você está muito amarela….

(Um minuto de silêncio, que fica sempre bem numa conversa)

Anisio Costa - Diz que quando as pessoas estão assim amarelas, como você, é alguma coisa no fígado.
Eulália Costa – Fígado?
Anisio Costa – em lágrimas – Você continua a beber? Você quer-me matar de desgosto? Você quer-me deixar viúvo? Logo agora que fizemos o empréstimo para o carro! Eu não tenho dinheiro para o funeral de você!
Eulália Costa – Anisio, quem bebe é a tua mãe.
Anisio Costa – Você não mude de assunto! Ouviu?
Eulália Costa – Mas é verdade!
Anisio Costa – Se não é do castrol, nem dos rinzes, nem dos arcaros nem do fígado, porque terá você tido uma insónia?
Eulália Costa – Talvez porque não tinha sono…
Anisio Costa – Ah, disparate. Que tem uma coisa a ver com a outra? Você não diga despautérios. Venha, vamos à urgência hospitalar.


A maravilhosa vida de um casal bem animado, é assim.